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OS investigada por suposto desvio de R$ 4,5 milhões na saúde pretendia assumir Hospital de Paulínia, diz MP

Organização Social Vitale Saúde (OS), investigada pelo Ministério Público por ser a responsável por supostos desvios no Hospital Ouro Verde, em Campinas (SP), também tinha interesse em assumir o Hospital Municipal de Paulínia (SP). A informação está no relatório elaborado pela Promotoria e em áudios de conversas interceptadas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) durante a investigação.
A Promotoria investiga supostos desvios de R$ 4,5 milhões do setor da saúde e a principal suspeita é a Vitale, que administrava o Hospital Ouro Verde desde o ano passado. O contrato com a OS foi rompido após a Operação Ouro Verde ser deflagrada, no dia 30 de novembro. Seis empresários ligados à empresa estão presos preventivamente.
Em uma das conversas interceptadas pelo MP, no dia 14 de julho, Aparecida Bertoncello, a Tata, que era a presidente da Vitale, ligou para Paulo Câmara, considerado pela Promotoria um dos verdadeiros donos da empresa, e disse que recebeu um pedido do lobista Fernando Vitor Torres Nogueira Franco: solicitar uma pessoa de confiança para fazer um estudo no Hospital de Paulínia. Os três estão presos.

Tata: Um estudo de custo do hospital. Então a gente já vai... vai ser superintendente administrativo, sabe, dentro do hospital? O valor o hospital vai pagar, né, o salário, e nós indicamos o Juliano. Que que você acha?
Paulo Câmara: Eu acho perfeito.
Tata: Gostou?
Paulo Câmara: Esse hospital, eu acho fundamental. Ele é um p*** hospital, dá um bom resultado, acho que vale a pena investir, tá?
Tata: Ai, que bom.
Paulo Câmara: E o Juliano é uma pessoa que a gente confia nele, né? Então, assim, melhor indicação, impossível.
A pessoa mencionada por Aparecida e Câmara é Juliano César Botéro, que já trabalhava para a Vitale e ligou para Tata no dia seguinte. Na conversa, a presidente da OS explicou a função dele em Paulínia e já dava como certo a contratação da empresa para administrar o hospital. Veja abaixo um trecho:

Tata: Mas eu acho muito interessante a proposta. É, você vai ser um tipo de superintendente lá dentro do hospital, você vai ficar lá por quatro meses.
Juliano: Hum.
Tata: Até depois de a gente ajeitar a vida da Vitale, porque o projeto é nosso praticamente, entendeu? Porque quem colocou o secretário da saúde lá foi o Vitor.
Juliano: Entendi.
Tata: Entendeu? O salário gira em torno de R$ 10 a R$ 13 mil.
Juliano: Tá.
Tata: Achei bom
De acordo com o Diário Oficial de Paulínia do dia 1º de agosto, Botéro foi nomeado ao cargo comissionado de superintendente do Hospital de Paulínia. A unidade médica viveu um ano de crise, com a suspensão de cirurgias eletivas, falta de material para raio-x e demora de até 4 meses para a realização de exames. Em outra conversa entre Tata e Juliano, eles conversam sobre a apresentação dele no hospital.
Juliano: Então tá bom, viu. Eu acabei de sair daqui de.. como chama a cidade? Paulínia. O Vitor ligou ontem à noite falando que..
Tata: P***
Juliano: Fiz a entrevista com o secretário e acabei de ser apresentado na Santa Casa, como superintendente, já. É, começo segunda-feira.
Tata: Ah, que bom!
Juliano: Confesso que deu um friozinho na barriga.
Tata: Por quê?
Juliano: Ah, não sei. Jesus, Nossa Senhora. Deu um friozinho na barriga.
No entanto, a Vitale não chegou a assumir a gestão do Hospital de Paulínia. No dia 16 de outubro, Juliano Botéro foi exonerado do cargo na secretária de Saúde e, segundo o Ministério Público, foi nomeado pela Vitale diretor geral do Hospital Ouro Verde no lugar de Ronaldo Foloni, também apontado como lobista e preso na operação do dia 30 de novembro.
No depoimento de Aparecida Bertoncello ao Ministério Público, o nome de Juliano Botério chegou a ser mencionado pelos promotores, mas, apesar das gravações telefônicas e dos documentos que comprovam que ele ocupou um cargo público, a presidente a OS negou todas as acusações. “A Vitale não indicou ninguém”, disse ela à Promotoria.

'Operação Ouro Verde'
Seis empresários investigados cumprem prisão preventiva e foram denunciados à 4ª Vara Criminal de Campinas, no dia 7 de dezembro, pelos crimes de organização criminosa, fraude à licitação, falsidade ideológica e peculato. Entre eles está Fernando Vitor Torres Nogueira Franco, que teve dois carros, modelos Ferrari e BMW, apreendidos no dia em que ocorreu a 1ª fase da "Operação Ouro Verde".
Os outros presos são Aparecida Bertoncello, Ronaldo Foloni, Ronaldo Pasquarelli, Paulo Câmara e Daniel Câmara. Os três últimos são apontados no relatório do MP como donos da Vitale e teriam coordenado as ações dos supostos desvios por meio da presidente (Aparecida), além de Foloni e Franco, que tinham as funções de lobistas. A Promotoria diz ainda que os donos da Vitale eram ligados à Pró-Saúde, instituição que administrou unidades no estado e foi alvo de denúncias.
Entre os servidores de Campinas que foram exonerados pelo governo após a operação estão Anésio Corat Júnior, Ramon Luciano da Silva e Maurício Rosa. O primeiro foi exonerado do cargo em comissão de diretor de departamento, junto ao Departamento de Prestação de Contas da Saúde, e foi na casa dele que PMs apreenderam R$ 1,2 milhão levado para a sede do MP. Além disso, ele está suspenso por 30 dias enquanto tramita o processo administrativo do governo municipal.

Já Ramon Silva foi desligado do cargo de coordenador Setorial, junto à Coordenadoria Setorial de Auditoria de Repasse Público ao Terceiro Setor, do mesmo departamento na Saúde. Por fim, Maurício Rosa, exonerado na quarta-feira (13), era um dos responsáveis por estruturar um "plano B" para o grupo conseguir mais verbas públicas sem precisar recorrer à Justiça.
O prefeito de Campinas, Jonas Donizette (PSB), é investigado pela Procuradoria Geral de Justiça (PGJ) após ter tido o nome citado em conversas gravadas pelo MP. O secretário de Assuntos Jurídicos e o líder do governo na Câmara, Marcos Bernadelli (PSDB), também são investigados pela Promotoria.

Defesas
A Organização Social Vitale afirmou que nunca "infiltrou" ninguém junto a nenhuma municipalidade e sempre se pautou em participar de licitações. Segundo a OS, a empresa jamais participou de qualquer certame junto ao município de Paulínia. Quanto a Juliano Botéro, a companhia informou que ele nunca assumiu um cargo de diretor do Ouro Verde, uma vez que em novembro outra pessoa assumiu a função.
A Prefeitura de Paulínia disse que Botéro ocupou o cargo de superintendente do Hospital Municipal em "uma rápida passagem" entre os dias 1º de agosto e 19 de outubro. A administração ainda informou que o secretário de Saúde do município, Claudio Marcondes de Miranda, será exonerado nesta sexta-feira (15), após ter anunciado a saída no dia 25 de novembro, e que não existe nenhum projeto para que a saúde do município seja gerida por uma organização social. A saída do titular da pasta não tem relação com as suspeitas, segundo o Executivo.
O advogado de Aparecida Bertoncello disse que ela é inocente e que as gravações demonstram que estava sendo feito um levantamento da gestão hospitalar no município.
A equipe tentou contato com a defesa de Juliano Botero, Ronaldo Pasquarelli, Paulo e Daniel Câmara, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem. Veja aqui o que dizem todos os envolvidos na Operação Ouro Verde.

Fonte: G1

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